O tríptico chamado “ITA” é composto por três “estandartes” de tecido preto com a estampa em acrílica das palavras stone, kiwi e Kameb,que significam pedra, em inglês, estoniano e russo.

A execução desse trabalho aconteceu durante o processo de imersão através da caminhada e do desenho no ambiente (natural, social, cultural, político...) de Tallinn, a capital da Estónia, em abril e maio de 2022, sendo o caderno a simples e versátil plataforma utilizada para tal.

Durante os dias de caminhada e desenho na fria e iluminada Tallinn em primavera, foi a pedra que aos poucos veio se sobressaindo aos meus olhos, presente nas construções, nos jardins e praças, nos parques, riachos e nas margens do mar báltico. Sentava-me num banco para desenhar, logo ao lado uma grande pedra. O cinza espalhado pelas novas construções de paredes grossas, a muralha medieval... Pedra. Pareciam conversar comigo por sua própria existência.

Assim como a pedra, questões culturais foram aos poucos se tornando para mim, visíveis.

A Estónia é entendida como uma nação apenas desde o séc. XIX. E mesmo assim, desde esse período esteve sobre domínio dos dinamarqueses, suecos, alemães e russos. Quando conseguiu sua independência, ainda esteve ocupada pela união soviética e somente em 1992, conseguiu sua independência de então.

Fui percebendo aos poucos, ainda que superficialmente, a presença das diversas culturas, seus encontros e conflitos, no cotidiano da sociedade estoniana. A diversidade das etnias que formam sua população marca a dinâmica e a construção da sociedade desse país e em Tallinn, por exemplo, pelo fato de parte da população ter origem russófona, muitos dos cartazes, placas e informações são passadas nas três línguas: o estoniano, o russo e o inglês.

Há tantos outros apontamentos a se fazer em relação a isso, mas nesse trabalho há alguns pontos a serem tocados e trabalhados artisticamente: a questão da convivência entre diferentes etnias, a busca de uma cultura propriamente estoniana e a pedra como elemento simbólico da natureza.

Esse trabalho recebe o título ITA, termo que significa pedra em tupi-guarani. (Tupi-guarani - família de línguas indígenas da América do Sul). Nascida no Brasil, neta de avós brasileiros por parte de pai e de um avô polonês e uma avó alemã por parte de mãe, fugidos ainda muito jovens da Segunda Grande Guerra para o Brasil, adiciono através do título a minha história e ancestralidade que abrange e repensa tais questões apreendidas em Tallinn.

Através desse trabalho relembro a união dos seres ao aproximar os diferentes povos, cada um através da sua língua e de sua cultura, da ancestralidade que é muito anterior e comum a todos nós: a nossa natureza de origem. Porém, ao fazer essa aproximação através das línguas com a inclusão de uma língua dos povos originários do atual continente Sul Americano, não ignoro as disputas de poder, o racismo e os movimentos de separação, existentes ao longo da história, passando pela colonização (no caso do meu país de origem) e culminando na atual guerra no território ucraniano, temida pelos estonianos por diversas questões em comum.

Ita ressoa então no nosso corpo e na nossa memória, e então, após a leitura, o silêncio. E vibramos naquela energia misteriosa, quase esquecida, mas conhecida e comum a todos nós. Pedra.