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CADÊ OS YANOMAMI?

2022

Cadê os Yanomami, 2022, faz parte do projeto 28 dias em Tallinn.
Instalação com pedras
da costa Pikakari Rand, Tallinn (EE), São Miguel de Acha, (PT), tamanhos variáveis.

28 DIAS EM TALLINN é um projeto realizado dentro do programa de exposições do Vent Space project (EKA- Tallinn).

O projeto teve apoio e abrigo do ateliê da artista Lígia Fernandes - https://ligiampfernandes.wixsite.com/ligia

Contou com o apoio financeiro da Incubadora DAO - https://incubadoradao.org/

Exposições:

Individual: 28 days in Tallinn
Vent Space Gallery

Tallin, Estonia
2022


 
Individual: 28 dias em Tallinn
Galeria Mola

Braga, Portugal
2022/2023

LINK: https://www.galeriamola.com/programa-7
Cadê os Yanomami?, 2022
Instalação com pedras da costa Pikakari Rand, Tallinn (EE) 35 x 60 x 60cm
Cadê os Yanomami?, 2022
Instalação com pedras de São Miguel de Acha (PT) 35 x 80 x 80cm
“Cadê os Yanomami?” é uma instalação que surge como “resposta” à força da pedra que compõe a natureza da cidade e região de Tallinn, força esta que me impactou enquanto por lá desenvolvia minha pesquisa artística que se desdobraria na exposição 28 dias em Tallinn. Essa exposição foi apresentada na Galeria Vent Space, Tallinn (ES), em maio de 2022 e mais tarde, na Galeria Mola, Braga (PT) em outubro de 2022 a janeiro de 2023.

Durante essa pesquisa realizada nos 28 dias em Tallinn através de anotações textuais e de desenho no meu diário gráfico, fui tocada por alguns fatos e acontecimentos que apresento aqui muito brevemente: ainda que superficialmente, pude perceber a presença de conflitos na convivência entre diferentes etnias que habitam a Estónia e região; os esforços do país e população de se entender e se reconstruir como nação; a presença da guerra no território ucraniano (que eclodira um mês antes de minha chegada à Estonia) e apresenta a ininterrupta realidade de conflitos, guerras, desterritorialização e disputa de poder presentes nesses territórios desde antes da Primeira Grande Guerra.

Essas questões me levaram a rememorar a história de meus avós maternos, que fugiram muito jovens, quase crianças, da Alemanha para o Brasil, no início da Segunda Grande Guerra.

Além disso tudo, nesse período, fiquei imensamente sensibilizada por mais um dos constantes ataques violentos de garimpeiros ilegais nas terras de comunidades orginárias no território brasileiro. O ataque à comunidade Yanomami, que levou o estupro de uma menina Yanomami de 12 anos e em seguida, o desaparecimento de toda a comunidade, repercutiu pelas notícias e redes sociais e o grito coletivo # Cadê os Yanomami? me alcançou em meio à vivência em Tallinn.

Foi nesse contexto que a pedra, elemento considerado na cosmovisão dos povos originários, me impactou desde o primeiro dia em que cheguei a Tallinn. Lembrei-me então do hábito popular de construção de pirâmides, totens de pedra, realizadas no Brasil, geralmente em riachos ou quedas dágua; da profunda relação que os povos originário têm com essa e outras criaturas cultuadas por eles; do trabalho artístico do artista brasileiro Bené Fonteles, que realizou totens/esculturas de pedra na natureza em diversas regiões do Brasil, e que ao meu ver, dessa maneira aproximou a prática religiosa da prática artística através do processo ritualístico presente em ambas as práticas, assim como rompeu fronteiras entre galeria e natureza, arte e vida, entre outras.

O conhecimento da pedra é cultuado no cotidiano dos povos originários que, ainda que sofram pelo menos a 500 anos pela colonização ocidental através de diversos extermínios (físico, social, cultural, religioso, territorial, entre outros) persistem corajosamente em se manter conectados com a sabedoria ancestral da natureza. Esse conhecimento ainda que adormecido e esquecido ainda está em nós, e contrariando a luta da Igreja Católica de dominação desse conhecimento para si e a separação do ser humano da sua natureza (“religiosa”), busquei através dessa simples ação de encontro com a pedra, me conectar com nossos saberes mais esquecidos e assim, me aproximar desses seres ancestrais contemporâneos, do norte ao sul, de formas, texturas, cores e culturas tão diferentes.

A partir disso, para ambas as exposições (na Galeria Vent Space e na Galeria Mola), recolhi 24 pedras mais um número inexato e aleatório de pedras para a construção do toten que se posiciona ao centro desse círculo. Na Estonia, fui à costa Pikakari rand, aos arredores da cidade, enquanto em Portugal o processo de recolha de pedras foi realizado por mim aos arredores da aldeia que me acolhe atualmente, chamada São Miguel de Acha. Em ambos os processos, as pedras são devolvidas ao local de recolha, após o fim de cada exposição.

As 24 pedras representam as 24 pessoas que formam a comunidade desaparecida (Aracaçá), representadas no círculo como as guardiãs desse toten, forma que remete à organização de comunidade com um terreiro central como espaço comum e protegido por toda a comunidade. Com o restante das pedras recolhidas construí o toten com o objetivo de que todas as pedras restantes o compusessem. Isto é, que nenhum ficasse de fora dessa estrutura.

Depois de muitas tentativas, aproximação cuidadosa, re-conhecimento do elemento (da criatura) adquirido pela relação no lento processo de montagem, a instalação “Cadê os Yanomami” preencheu, ventilou e resplandeceu sua força e energia pelo espaço e público de ambas as galerias: a Galeria Vent Space em Tallinn (ES) e a Galeria Mola em Braga (PT).
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